Willian era um sujeito organizado e bastante aplicado e tudo que fazia. Gostava de analisar muito antes de dar qualquer passo. Não seguia adiante sem ter a máxima certeza de onde daria qualquer decisão que viesse a tomar. Não se importava muito com o que estivesse acontecendo a sua volta, pois gostava de seguir no seu ritmo. Afinal para que pressa? O importante era não apenas fazer as coisas "certinhas", mas também ter a convicção plena de que não havia qualquer dúvida ou erro. Planejava para tudo! Numa apresentação, por exemplo, caprichava bastante na riqueza de detalhes, dados, fundamentos e explicações, isso sem falar na questão estética, pois a apresentação é claro, tinha que ficar também muito impactante. Adorava explicar tudo, "tim tim" por "tim tim"...Paul era diferente... Ele tinha pressa e gostava de ser sempre o primeiro a resolver qualquer assunto. Não pelo desejo de ser o primeiro, mas muito mais para se envolver já no próximo assunto. Sua pressa era de produzir, de entregar, de processar. Segundo ele, planejar demais, analisar demais, refletir demais, era ruim, pois fazia com que "perdesse" tempo. Era conhecido por ser pratico demais. Às vezes de forma até exagerada. Seu negócio era ir direto a ponto, sem rodeios ou muito "blá, blá, blá". O problema é que em seu íntimo irritava-se com muitas perguntas e questionamentos, pois considerava as pessoas a sua volta sempre muito lentas.
Certa vez, ambos, que não se conheciam até então, imaginem só, foram colocados para trabalhar juntos num novo projeto. A primeira reunião de trabalho foi no mínimo curiosa: Willian chegou calmamente 15 minutos antes. Paul chegou quase atrasado, esbaforido, pois para não atrasar teve que correr. Willian trouxera pastas, dados e documentos e muitas informações para subsidiar a reunião. Já Paul, trouxe apenas um papelzinho com algumas anotações. Não tinha tempo de sobra para ficar pesquisando demais...
Willian perguntou: Por onde começamos? Paul delicadíssimo respondeu: Que tal pelo começo? E assim, ali estavam duas cabeças, diametralmente opostas, colocadas juntas para criar algo, desenvolver um novo projeto, e necessariamente precisando colaborar uma com a outra. Após alguns momentos um já tinha noção de como o outro era e se aperceberam que ao menos enquanto estivessem juntos, tinham que ceder se não seu convívio seria só de conflitos.
Alguns dias depois com mais intimidade, Paul arriscou um comentário mais pessoal: "Willian, você é muito detalhista, isso te torna muito metódico e lento". Willian calmamente respondeu: "Engraçado, eu acho que você pensa assim por que é apressado demais, querendo ser prático demais e sem nenhuma sensibilidade". Continuou: "Você só me acha lento porque você quer ser rápido demais." Muita gente acha isso." Paul se interessou e disse: "Tudo bem que já tinham me dito que você era lerdo, mas não imaginei que tanto assim... Mas, me diga uma coisa, disseram a você que sou muito apressando é?" Willian sem desdém reafirmou: Sim e também que por isso acaba sendo muito frio e insensível, por querer estar a frente demais..." Paul, que ouvia com interesse retrucou: "Já de você também falaram que demora demais para tudo, que sua lentidão excessiva e também, atrapalha."
Esta reunião, de todas foi a mais produtiva, pois ambos sem perceber estavam colaborando de verdade um com o outro, se foram, pensando o que seria então o ideal, já que a percepção das pessoas em torno dos dois não era das melhores, pelos excessos de cada um. Nenhum excesso costuma ser saudável. O cenário ideal e que devemos perseguir, neste mundo de metódicos e práticos, é procurarmos ser práticos, mas sem tanta pressa. Ou metódicos, mas sem perder tempo demais. Não podemos esquecer que a vida, hoje mais do que nunca, nos pede sermos mais objetivos. Mas, podemos fazer isso sem atropelar ninguém a nossa volta. Pense no Paul, pense no Willian e na queria ser nenhum dos dois. Boa semana e até a próxima !
Antônio Carlos Rodrigues
