domingo, 16 de outubro de 2005

QUE BEM QUE FAZEM AS LÁGRIMAS...

De todas as expressões do sentir, o chorar é a que tem maior força restauradora...

Esta semana, em uma rara viagem de férias, assisti a uma cena que durante vários dias não me saiu da cabeça: vi um garoto chorando. Até aí, ver um menino com cerca de oito a dez anos chorar, nada de novo. O que me incomodou foram as circunstâncias desse choro: eu estava no aeroporto e o pequeno rapaz estava se despedindo do pai que seguiria viagem. O menino não conteve suas emoções e chorava antecipadamente e de forma espontânea pela distância e pela saudade que sentiria. O incômodo ficava por conta do pai, que não apoiava o garoto e ainda o recriminava com voz alta (quase enérgica) para que parasse de chorar. Pensei comigo: quanta insensibilidade. Além de não dar o abraço (que seria de se esperar num momento como este), ainda dava uma bela bronca pedindo que o garoto deixasse de ser ele próprio e fingisse ser a pessoa forte para orgulho e satisfação de seu pai. As senhoras presentes (aparentemente mãe, tia e avó) é que consolavam o rapaz afirmando que tudo aquilo logo passaria.

As gerações passadas cresceram foram educadas de forma equivocadas, sempre incentivadas a ocultar as emoções e a não expor sentimentos. A tese, por exemplo, de que chorar é “demonstração de fraqueza” é um dos maiores enganos que se pode ter e ainda pior se transmitido aos outros (os homens que o digam).

Ainda nos dias de hoje é dessa forma que muitas crianças são educadas e criadas: sob rígida pressão, podadas do direito de expressar e manifestar seus sentimentos. Muitas se transformam em adolescentes e adultos que parecem viver sob constante pressão emocional sem acionar esta fantástica “válvula” que todos temos chamada choro.

De todas as expressões do sentir, o chorar é a que tem maior força restauradora agindo em nós, independente do motivo, como algo que tem a função de consolar e até de reparar sentimentos difíceis de suportar e controlar. Ou você já não sentiu alguma vez uma vontade incrível de chorar e sozinho ou na companhia de alguém da sua intimidade chorou, chorou e se sentiu bem melhor após o desaguar das lágrimas? Ocorre um forte sentimento de alívio e de relativa tranqüilidade após uma (às vezes necessária) sessão de choro. Independente dos motivos pelo qual se possa chorar, as lágrimas têm nobres funções biológica e emocional, muitas vezes dando verdadeiro suporte e equilíbrio as nossas vidas. Portanto se com vontade de chorar, chore e se próximo a uma pessoa querida que esteja prestes a chorar, não diga “não chore!”. Em vez disso, estenda um abraço e permita que a pessoa chore a vontade. Isso será muito melhor, além disso sinal de respeito e de grandeza. Pense nisso e até a próxima.

Antônio Carlos Rodrigues