domingo, 2 de setembro de 2007

SABER FALAR, SABER CALAR...

De todos os seres vivos, certamente somos a espécie que detém a mais sofisticada e rica forma de comunicação. Utilizamos as expressões facial e corporal, além da comunicação escrita e da verbal para estabelecermos contato com as pessoas e com o mundo que nos cerca e de todas as formas nos expressarmos nossas idéias e pensamentos é na fala que encontramos maior facilidade para tanto transmitirmos, como recebermos informações daqueles com os quais estabelecemos contato em nosso dia a dia.

Basta que hajam duas ou mais pessoas para que um diálogo seja estabelecido e as conversas fluam naturalmente, cumprindo o eterno ritual de trocas, não apenas de informações, mas de pensamentos, percepções e por que não dizer estados de espírito. O "parlatório" é natural, já o silêncio não. Por isso mesmo, somos pouco afeitos à ausência de diálogo, pelo simples fato de que desde crianças, quando aprendemos a falar, sempre nos cobram que falemos alguma coisa. Na verdade, se prestar atenção até hoje é assim... Basta ter alguém quieto ou um pouco mais pensativo, para que outro cobre: "Fala fulano... Aconteceu alguma coisa?"

Os pais de forma geral, tão preocupados que suas crianças aprendam a falar, esqueceram de ensinar (talvez por não terem aprendido) a importância do silêncio... A importância do calar. Em muitos casos, mais importante do que o falar. A depender do propósito da conversa, do motivo do diálogo, o silêncio pode "falar" mais do que se falássemos algo. Falar, por falar, é equivalente a não ter nada a dizer. Nossas opiniões, nossos pensamentos, nossas idéias e nossos projetos, enfim... Aquilo que vai em nossas mentes e corações, merece cuidados tanto na forma como serão ditos, como para quem serão ditos. É necessário criticar não apenas o jeito de verbalizar algum pensamento, mas se a pessoa que vai ouvir é merecedora (ou alvo adequado) daquela informação, ou ainda se devemos realmente falar alguma coisa.

O impulso será sempre de dizer algo... E é exatamente por isso que precisamos nos policiar e filtrar o que se tem a dizer. Sem esse cuidado, quando menos esperamos, as palavras saltam a nossa boca e a língua "nos trai", falando demais e desnecessariamente.

Quando faço essa reflexão, falo ao meu íntimo, pois como qualquer um, divido com o amigo(a) leitor(a) a mesma agonia que é a tendência de falar mais do que ouvir. Sábio o dito popular: "Deus nos fez com dois ouvidos e uma boca, para ouvirmos mais e falarmos menos"

Sempre que possível, optar por ficar quieto, nos permite analisar melhor o cenário e em função disso preparar melhor o que se vai dizer. Em outras situações ainda, o que nos é requerida é apenas a nossa companhia, pois a depender da circunstâncias, nada que dissermos será necessário ou suficiente para o ouvinte. E precisamos estar preparados inclusive para isso: fornecer nosso apoio e consideração em forma de presença e silêncio. Ou você nunca emprestou seu ombro a alguém? No afã de falar, parece que queremos decifrar os enigmas da alma, algo que não nos é dado saber. Habituemo-nos a praticar o calar, porque o falar dispensa exercícios e já não precisamos. Agora, vou para de falar um pouquinho... Pense nisso e até a próxima.

Antônio Carlos Rodrigues